CONTATO COM A NATUREZA PREVINE O ESTRESSE, ANSIEDADE E DEPRESSÃO
“É melhor prevenir do que remediar”, diz um ditado popular. E é esse papel que a natureza faz no combate aos principais transtornos do mundo moderno.
Uma caminhada no parque pode acalmar a mente e, no processo, mudar o modo como ela funciona melhorando nossa saúde mental. É isso que afirma um estudo recente sobre os efeitos físicos que o contato com a natureza tem no cérebro.
Hoje, a maioria das pessoas moram em centros urbanos e passam muito menos tempo em espaços verdes e naturais do que as gerações passadas. Moradores das cidades têm riscos maiores de sofrer de ansiedade, depressão e outras doenças mentais do que aqueles que vivem longe do espaço urbano.
Esses fatores parecem ligados de alguma maneira, de acordo com um conjunto cada vez maior de pesquisas. Vários estudos descobriram que quem mora nas cidades, com pouco acesso a áreas verdes, tem incidência mais alta de problemas psicológicos do que as pessoas que vivem perto de parques. Além disso, os moradores urbanos que frequentam ambientes naturais têm níveis menores de hormônio do estresse, logo depois da visita, do que aqueles não veem áreas verdes há algum tempo.
SAÚDE MENTAL
Mas ainda não está claro como frequentar um parque ou a outra área verde pode alterar o humor. Será que vivenciar a natureza realmente mudar o nosso cérebro de modo a afetar nossa saúde emocional?
Essa possibilidade intrigou Gregory Bratman, aluno de graduação do Programa Interdisciplinar Emmett de Meio Ambiente e Recursos da Universidade Stanford, nos Estados Unidos, que estuda os efeitos psicológicos da vida urbana. Em um estudo publicado no último mês, ele e seus colegas descobriram que voluntários que andaram brevemente no meio de uma exuberante área verde no campus da universidade ficaram mais atentos e felizes depois do que os que passearam o mesmo tempo perto de tráfego pesado.
Mas o estudo não examinou os mecanismos neurológicos relacionados aos efeitos de estar na natureza. Assim, para a nova pesquisa, que foi publicada no último dia 14 “Proceedings of the National Academy of Sciences”, Bratman e seus colaboradores decidiram analisar mais de perto qual o efeito de uma caminhada para desenvolver preocupações.
O agito dos grandes centros urbanos prejudica a saúde física e mental. As poluições sonora, visual e atmosférica somadas ao enclausuramento do dia a dia contribuem com o desencadeamento de problemas pulmonares, cardíacos e emocionais. Diante deste contexto, a ciência vem mostrando que praticar atividades ao ar livre, em contato com a natureza, é o que precisa ser incorporado na rotina das pessoas como forma de tratamento preventivo.
PESQUISADORES NA UNIVERSIDADE
Pesquisadores da Universidade de Chiba, no Japão, reuniram 168 voluntários e colocaram metade para passear em florestas e o grupo restante para andar nos centros urbanos. As pessoas que tiveram contato com a natureza mostraram em geral uma diminuição de 16% no cortisol (hormônio do estresse), 4% na frequência cardíaca e 2% na pressão arterial.
Para o neurologista e psicoterapeuta cognitivo Mário Negrão, é possível notar uma melhora significativa no aparelho digestivo, nas alergias e na resistência à bactérias e infecções, mas o mais importante é a sensação de bem-estar. “Quando você coloca um indivíduo em uma cidade sem muita natureza, você está colocando-o em um ecossistema hostil, onde tudo que o rodeia é artificial. É comprovado que isso gera um impacto imenso na saúde”, relata.
Na Austrália, um estudo produzido na Universidade Deakin mostra que a natureza oferece às pessoas momentos de liberdade e relaxamento, impactando positivamente o estado mental dos indivíduos e reduzindo sintomas de ansiedade e depressão. Na Holanda, pesquisadores do Centro Médico Universitário de Amsterdã constataram que pessoas que vivem próximas da natureza reduzem em 21% as chances de desenvolverem depressão.
BENEFÍCIOS JUNTO A NATUREZA
Os benefícios também envolvem uma melhora na qualidade do sono, no desenvolvimento cognitivo, na imunidade, nos problemas cardíacos e pulmonares, além de uma redução na ansiedade, na tensão muscular e na possibilidade de desenvolver doenças como obesidade e diabetes.
Para a doutora em Ciências Florestais e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza, Teresa Magro, a sensação de bem-estar está relacionada também ao que fazemos no ambiente natural. “Só o fato de olhar uma paisagem, fazer um passeio em um parque ou em uma área com menos barulho, já nos dá uma sensação de relaxamento”, afirma.
No país com a mais rica biodiversidade do mundo, o contato com a natureza pode ocorrer em diferentes espaços, como parques, praças, cachoeiras e ambientes costeiros e marinhos. “Os benefícios fornecidos pela natureza – como ar puro, água, regulação microclimática, redução de partículas poluentes, relaxamento mental e físico, entre outros – e sua conexão com a saúde das pessoas devem ser vistos pela sociedade e pelo poder público como uma prioridade. Ter espaços verdes acessíveis e bem cuidados próximos da população estimula a visitação e a prática de atividades, o que resulta em indivíduos mais relaxados e produtivos”, completa a gerente de Conservação da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, Leide Takahashi.
Sobre a Rede de Especialistas
A Rede de Especialistas de Conservação da Natureza é uma reunião de profissionais, de referência nacional e internacional, que atuam em áreas relacionadas à proteção da biodiversidade e assuntos correlatos, com o objetivo de estimular a divulgação de posicionamentos em defesa da conservação da natureza brasileira. A Rede foi constituída em 2014, por iniciativa da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.